quinta-feira, 11 de setembro de 2008

EU FUI - Parte III


Continuando...


Depois dos saltos desmesurados dos brasileiros que nos circundavam, das cores das bandeiras dos Brasil que nos ofuscavam e nos tapavam a vista para o palco, depois de reproduzidas músicas com letras deveras brilhantes e intrincadas de um dialecto ainda por descodificar, tais como "Pererê", "Arerê" e outras que tais, e de assassinar sem dó nem piedade o clássico do Alejandro Sanz "Corazón Partío" (ser-se brasileiro e cantar em espanhol é um atentado à saúde de quem ouve), lá assentamos pés no chão e começamos a ir o mais para a frente que conseguiamos. Tudo pela Miss Amy Winehouse. Lá fomos nós de mãos dadas, a fazer carreirinha, para não nos perdermos naquela confusão de gente. A muito custo lá tentavamos passar por entre aquele pessoal, enquanto esboçavamos grandes sorrisos e olhares amorosos como que a dizer "licençinha" e recebíamos de retorno olhares sanguinários que falavam por si e que, logo, dispensavam palavras.



Estavamos já bem adiantadas em relação ao lugar de onde tinhamos assistido ao concerto da Ivétxi, e foi quando, de novo (outra vez, não sei como), no meio de milhentas criaturas, esbarrei numa colega de casa. "Olhaaaaa tuuuuu aquiiii!!". E lá nos cumprimentamos esbaforidas pela surpresa. Enquanto isso as outras três moças continuavam desaparecidas, e um súbito problema na rede dos telemóveis de toda a gente não permitia mandar uma única sms. Mesmo que desse não ia valer de nada. Era completamente impossível combinar pontos de encontro; entretanto já anoitecia e já toda e gente se dirigia para o espaço do Palco Mundo. Quem tivesse lá bem no meio daquela multidão à rasca para fazer chichi, 'tava bem fodido, 'tava. É nessas alturas que as algálias fazem jeito.

Já estava bem escuro e tava tudo ansioso pela chegada da bêbed... Amy Winehouse. É importante relembrar que esperamos à volta de 40 minutos para que a moça se decidisse se punha ou não os chispes em palco. Muita coisa se fez nesses 40 longos minutos. Desde ondas e mais ondas que iam de um extremo, até à outra ponta do recinto (por acaso, um efeito fantástico e digno de se ver), apupos que davam para ouvir em Chelas (vulgo, "Booooooo's") devido ao atraso monumental. No calor do desespero chegou-se ainda a ouvir o "Parapapapapaparapapa" e o "Gostosão" (que hinos!) entoados por uns dementes que estavam perto de nós e o sempre presente "Portugal Allez, Portugal Allez" como se de um jogo de futebol se tratasse. Eu, na minha angústia e já com dor nas pernas, limitei-me a um "Vão mas é ao camarim que às tantas a senhora 'tá a ter uma overdose!". Algumas criaturas riram-se, mas o meu propósito era que alguém da organização me ouvisse.

Foi também nessa altura que a tal colega de casa disse-me "Cátii, recebi agora uma sms de uma amiga. Ela diz que passou agora no rodapé da Sic Radical que a Amy não vai actuar"...Ora, esta frase dita assim de rompante, sem um momento de suspense, sem um rufo de tambores, sem nada que fizesse adivinhar a tragédia, o drama, o horror, fez-me pensar de imediato em duas coisas: 1ª: "Ai foda-se, quero o meu dinheiro de volta!"; 2ª "Eh lá, problemas de rede no telemóvel resolvidos".

Confesso que fiquei triste quando pensei sequer na possibilidade daquela alucinada fazer uma desfeita daquelas. É que eu já há uns tempos que andava a ouvir o Álbum Back to Black, tornando-me assim fã da cachopa. Para além de que pagar 53€ para não ver a cabeça de cartaz do dia de abertura é francamente desagradável (Ok, se calhar o cabeça de cartaz era o Lenny, mas eu confesso que fui mais por ela).

Estávamos mais que convencidos que a mulher nem os pés tinha posto em Portugal, e que às tantas iamos era ouvir um dueto do Paulo Gonzo e da Ivente Sangalo para tapar o buraco deixado pela desvairada. Quando os "Boooooo's" se motravam cada vez mais sonoros (recinto esgotado; 90 mil pessoas) e quando alguns já desmaiavam com fraqueza nas pernas, eis que aparece no ecrã gigante a gaja a cambalear de copo na mão, a preparar-se para entrar no palco. Barulho ensurdecedor no recinto. Desta vez não para vaiar a desgraçada, mas para mostrar a satisfação pela sua chegada. É incrível como os portugueses passam de mauzões e implacáveis, a hospitaleiros e fãs incondicionais de Soul & Jazz.

Eu só sei que quando vi que afinal de contas a Amy ia (tentar) cantar, entrei em êxtase e dei uns gritinhos estridentes.

Entra-me aquela ave rara em palco, de vestidinho azul, de saltos altos (big mistake, quando se está num estado de pura embriaguez), com uma ligadura no braço, com o ninho de ratos que tem sobre a cabeça completamente desalinhado, com um gancho em forma de coração lá enfiado com o nome do marido (Blake), e com alto chupão no pescoço (ou quiçá, um eczema, ou uma urticáriazinha), balbucia meia dúzia de sílabas absolutamente imperceptíveis, cambaleia mais um bocado..."I'm sorry I'm late", diz ela.

"'Tá bem filha, 'tás perdoada. Agora redime-te e canta, mas é". Pensei eu.

Ela bem que que atendeu ao meu pedido. No entanto não cantou: grunhiu. 'Tava completamente afónica, 'tadinha,

Aí deu para ver perfeitamente o profissionalismo e dedicação...do resto da banda, que fez de tudo para "salvar" o concerto. Oito músicos fantásticos, dois deles Back singers, que para além de cantar, dançam de forma sincronizada. Fantásticos pá. I Love You Zalon!

Ora, ainda assim, fartei-me de cantar e de "cÓrtir" o concerto mais a Tânia e o resto do pessoal, enquanto a Catarina, sem mexer um único milímetro, pasmada, com os olhos semi-cerrados e de boca aberta a olhar para o Palco abanava a cabeça, com certeza a pensar "Mas eu paguei 53€ p'ra isto?". Eu de vez em quando olhava, só mesmo pelo gozo, e lá estava ela, com a mesma expressão. Ri-me p'ra camano. Foi giro, foi.

Num concerto que durou pouco mais de 50 minutos, a Amyzinha, completamente bezana e alucinada talvez por ter snifado alguma poeira do recinto, esqueceu-se das letras das músicas, improvisou, tentou tocar guitarra "'cause my voice is completely fucked up", dançou de uma forma muito esquisita bamboleando as perninhas para a esquerda e para a direita, ia caindo (eu avisei que os saltos altos eram má ideia...valeu-lhe o Zalon que a agarrou), saiu do palco por uns segundos, comeu bombons, bebeu não sei quantos copo de vinho, chorou enquanto cantou "Love is a Losing Game" porque lá se lembrou que o marido estava preso...Enfim, uma fofa.

Apesar de tudo, gostei do concerto. Mesmo.

Senti pena da moça. Apenas 24 anos, um talento sem fim, e já tão desgraçada.

Acabou o concerto e preparava-se terreno para a chegada do grande Lenny Kravitz.

Por aqui prepara-se terreno para a Parte IV da saga Rock in Rio. Ah pois.

Ainda falta referir, entre outras coisas, que andamos mais uns metros para ficarmos ainda mais próximas do palco, que atropelamos pelo caminho seres puramente estúpidos que se sentavam no chão à espera do próximo concerto ('tava tudo escuro, e nós não tinhamos faróis), o espectáculo que foi o concerto do Lenny, e não esquecer ainda do grande Dj Paul Van Dyk que deu um Show de Trance que me deixou, a mim, alucinada (mas não como a Amy estava).



Próximo capítulo, a não perder.





Continua...






3 comentários:

Unknown disse...

Olá... devolvo a "invasão"! ;-)

Vou passar por aqui mais vezes pra ir continuando a acompanhar estes devaneios. Gostei da escrita!

filipa disse...

catizona... és uma contadeira de cenas maravilhástica... se bem que não contaste lá muito bem a parte da deusa ivete >[ (atenção: eu n m costumo referir à moça assim... mas faz de conta...)

fico à espera da 4ª parte!! isto tá mais emocionante que os últimos episódios da "Outra" (que julgo ainda não terem acontecido. mas deviam...)

Anónimo disse...

grande casa de vinho! do nome á realidade foi um passinho!